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TCC

21/09/2014

O que me distancia daqui é tão somente o maldito TCC, que preciso reformular de novo.

Tento focar e só encontro desfoco.

O emprego anda numa boa, estou quase bom no que faço.

Mas o TCC ainda é matéria pra dores de cabeça e stress.

Abro esse post aqui porque quem sabe falando sobre o assunto (que é cinema), eu consiga focalizar o que me falta.

Pois então, eu pergunto: o que é subjetividade no cinema?

A primeira impressão, suponho, seja a seguinte: o modo como cada espectador interpreta o filme. Nossas opiniões e interpretações são subjetivas, portanto subjetividade no cinema seguiria nessa direção. É verdade.

Mas não é a subjetividade que eu procuro. Estou atrás de outra.

Indago o seguinte: como utilizar a linguagem cinematográfica par ilustrar a subjetividade DO PERSONAGEM? Como representar audiovisualmente a condição psicológica do personagem?

O querido estudioso David Bordwell e sua parceira Kristin Thompson apresentam duas instâncias de como a subjetividade de um personagem pode aparecer no cinema.

A primeira delas, eles chamam de “subjetividade perceptiva“. Esta diz respeito, sem mais delongas, ao ponto de vista FÍSICO do personagem. A chamada câmera subjetiva, que mostra literalmente o que os olhos do personagem estão vendo naquele momento, é o melhor exemplo de subjetividade perceptiva. Vemos aquilo que o personagem vê. E o mesmo processo ocorre com o som, quando ouvimos barulhos próximos aos ouvidos do personagem. Na subjetividade perceptiva, estamos, através da câmera e do microfone, percebendo dentro do filme aquilo que o personagem também percebe FISICAMENTE.

Já o segundo tipo de subjetividade, referido como “subjetividade mental“, se refere a tudo que o personagem pensa, fantasia, sonha, imagina, e que não existe de fato no mundo em que a história contada no filme acontece. Quando ouvimos um personagem narrando seus pensamentos, estamos em um momento de subjetividade mental. Na subjetividade mental estamos testemunhando algo que APENAS aquele personagem poderia sentir/expressar. Um ponto de vista físico na subjetividade perceptiva poderia ser percebido por qualquer personagem que estivesse naquele local naquele momento. Agora, os pensamentos que um personagem tem ao visualizar aquele ponto de vista específico são somente dele e de mais ninguém.

As duas categorias não são excludentes, e frequentemente filmes criam cenas híbridas das duas. Como em um plano ponto de vista em primeira pessoa acompanhada de uma voz interna reportando os pensamentos do personagem enquanto ele vê aquilo que aparece em cena. Tri comum esse tipo de mistura.

 

Agora, minha grande dúvida e motor para o projeto do TCC é o seguinte: como trabalhar a subjetividade de um personagem ao ordenar fora de ordem cronológica os eventos da trama? Quero dizer, considerando que a subjetividade perceptiva e mental é ativada principalmente através do que o filme está nos mostrando (seja visual ou acusticamente) cena a cena, como explorar essas instâncias de modo macro, em uma estratégia que percorra todo o arco da narrativa?

Não estou tirando essa ideia do vento. No livro que o Bordwell escreveu sobre Christopher Nolan, ele sugere algo nessa linha. Ao analisar os filmes do diretor, Bordwell chega a conclusão de que Nolan procura trabalhar a subjetividade de seus protagonistas através de estratégias narrativas rebuscadas que, em função de sua não linearidade, colocam os eventos da história em uma ordem que, em determinado momento, acaba ilustrando o ponto de vista limitado ou iludido do protagonista.

Pegando o exemplo de Amnésia (spoilers pela frente): estranhamos o começo do filme por não entendermos a lógica da sequenciação das cenas. E, de fato, mesmo depois de identificarmos essa lógica, continuamos invariavelmente perdidos em relação a vários detalhes da trama. Tal confusão é proposital, pois, ao organizar o filme em ordem anticronológica (indo do fim ao começo), Nolan faz o espectador experimentar na pele aquilo que assola o protagonista, vítima de perda de memória recente. Ao começar cada cena pelo final da cena seguinte e não da anterior, Nolan impõe no espectador a mesma angústia de que sofre Leonard no filme, incapaz de gravar novas memórias por mais de 15 minutos.

É uma estratégia narrativa brilhante que brinca com a percepção do personagem e do espectador, fazendo isso por todo o arco narrativo do longa-metragem.

O caso de Amnésia é bastante conhecido, e o filme já foi analisado o bastante por muita gente mais importante e mais esperta que eu.

Minha ideia é pegar o primeiro filme de Nolan, Following, em que já é possível perceber a predileção por esse jogo narrativo não linear que confunde e surpreende o espectador na mesma medida em que desenvolve a subjetividade de seu protagonista. Em Following, o protagonista narra boa parte da história (spoiler dos brabos a seguir, selecione o texto para ler) convicto de estar falando a mais pura verdade apenas para no final descobrir que fora enganado e que seu relatório, frente às evidências forjadas que o incriminam, soa apenas como uma desculpa furada e que o afunda ainda mais na merda em que foi jogado.

 

Para analisar direitinho como se dá o processo de “ilustração” da subjetividade do protagonista de Following, se meus orientadores estão corretos, preciso primeiro discorrer sobre o modelo da narrativa não linear – e suas características dramáticas. Depois, devo discutir os três tipos de discurso presentes em narrativas: direto, indireto, e indireto livre. Então, uma avaliação dos efeitos possíveis através da combinação da narrativa não linear com os tipos de discurso – como essa imbricação leva à subjetividade do protagonista. E por fim uma análise de Following, pondo em questão como tudo isso se apresenta no filme.

Faz sentido?

Preciso realmente discutir essas questões.

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VIDA NOVA, BLOG NOVO

27/07/2014

TIREI A CARTEIRA DE MOTORISTA!

E

CONSEGUI UM EMPREGO!

Happy David Tennant

Tudo na mesma semana!

Nunca minha vida mudou tanto em tão pouco tempo.

Tudo que eu não fiz nos últimos 2 anos eu fiz nos últimos 7 dias.

Não, não vou fazer um blog novo.

Mas quem sabe agora que eu estou mais feliz eu consiga atualizar isso aqui com mais frequência que de 6 em 6 meses. Ando recebendo pedidos informais para reviver o blog. Então, farei um esforço.

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2013 e suas listas

02/01/2014

Um ano acaba e com ele vão junto muitas coisas. Como, por exemplo, listas de melhores filmes do ano.

2013 foi um ano estranho. Passou muito rápido e mais do que nunca eu tenho consciência de que deixei de ver muitos filmes provavelmente bons que chegaram nos cinemas de Porto Alegre, com atraso ou sem. Holy Motors, que foi presença quase obrigatória em listas dos sortudos de São Paulo e cia em 2012, chegou aqui no meio de 2013, e eu não consegui ir ver. Deixei de fazer o download do filme porque tinha esperança de vê-lo no cinema e, quando tenho a chance, não sou capaz de aproveitá-la. E foi assim com vários outros: Além das Montanhas, Amor Bandido, A Bela Que Dorme, Dentro da Casa, Depois de Lúcia, Depois de Maio, Dossiê Jango, Faroeste Caboclo, Hannah Arendt, Jogos Vorazes: Em Chamas, As Quatro Voltas, Tatuagem – para citar alguns.

Portanto, meu Top 10 de 2013 deve ser considerado levando em conta a lista ao final desse post, com todos os filmes que assisti no cinema nesse ano. Tenho minhas polêmicas de sempre e alguns filmes que muito cinéfilo amou (como O Som ao Redor) eu posso realmente não ter achado grande coisa, ou posso não ter tido a maturidade para interpretar com mais profundidade.

Vale lembrar que considero para a eleição dos melhores do ano qualquer filme lançado comercialmente nos cinemas de Porto Alegre no período entre 1 de janeiro e 31 de dezembro de 2013. Ou seja, não interessa o ano em que o filme foi feito em seu país de origem. Se chegou nos cinemas de Porto Alegre em 2013, está apto a entrar na lista. E notem que eu digo Porto Alegre, e não Brasil, pois tem filmes que chegam oficialmente no “Brasil” (leia-se São Paulo) em uma data, apesar para chegarem ao resto do país algum tempo depois (é o caso do já citado Holy Motors, e de Mistérios de Lisboa). Filmes lançados direto em DVD acabam não entrando na seleção final, mas podem ganhar menções honrosas (há mais de uma nesse ano).

Então, sigo agora não só com a lista do Top 10, mas com meus preferidos em várias categorias. O meu já tradicional Ghuyer Awards, que, dessa vez, não contará com alguns dias de suspense antes de revelar os vencedores. Vai de tudo de uma vez só. Lembrando, não se esqueçam, que é uma premiação de uma única pessoa (minha, só minha), e passível de ser editada num futuro incerto. Se eu ver algum filme muito bom atrasado e quiser colocá-lo na seleção, farei isso. Eu me dou esse direito.

Os 10 Melhores Filmes de 2013

  1. Gravidade (EUA, 2013)
  2. Os Suspeitos (EUA, 2013)
  3. Capitão Philips (EUA, 2013)
  4. Mistérios de Lisboa (Portugal, 2012)
  5. A Hora Mais Escura (EUA, 2012)
  6. A Caça (Dinamarca, 2012)
  7. Amor (Áustria, 2012)
  8. Killer Joe: Matador de Aluguel (EUA, 2011)
  9. Azul é a Cor Mais Quente (França, 2013)
  10. A Viagem (Alemanha/EUA, 2012)

* Menções honrosas: Imaginaerum (Imaginaerum, Finlândia, 2012), belíssimo filme inspirado no álbum homônimo da banda Nightwish, e que não chegou a ser lançado nos cinemas brasileiros, porém teve uma rápida passagem por festivais como o Fantaspoa, que trouxe o filme para Porto Alegre. E também The Day Of The Doctor, especial de 50 anos da série Doctor Who, que foi transmitido simultaneamente em salas de cinemas de mais de 90 países, e contou com um roteiro muito mais ambicioso e complexo que boa parte da produção cinematográfica no ano. Além de Martha Marcy May Marlene (EUA, 2011) e O Segredo da Cabana (The Cabin In The Woods, EUA, 2012), dois filmes sensacionais que só chegaram por aqui em DVD.

E as demais categorias, com os vencedores em negrito:

Melhor Direção

  • Capitão Phillips (Paul Greengrass)
  • Gravidade (Alfonso Cuarón)
  • A Hora Mais Escura (Kathryn Bigelow)
  • Mistérios de Lisboa (Raul Ruiz)
  • Os Suspeitos (Denis Villeneuve)

 Melhor Elenco

  • A Caça
  • Killer Joe: Matador de Aluguel
  • Mistérios de Lisboa
  • Muito Barulho Por Nada
  • Os Suspeitos

 Melhor Ator

  • A Caça (Mads Mikkelsen)
  • Capitão Phillips (Tom Hanks)
  • O Mestre (Joaquin Phoenix)
  • Mistérios de Lisboa (Adriano Luz)
  • Rush: No Limite da Emoção (Daniel Brühl)

 Melhor Atriz

  • Amor (Emmanuelle Riva)
  • Antes da Meia Noite (Julie Delpy)
  • Azul é a Cor Mais Quente (Adèle Exarchopoulos)
  • Blue Jasmine (Cate Blanchett)
  • Ferrugem e Osso (Marion Cotillard)

 Melhor Ator Coadjuvante

  • Capitão Phillips (Barkhad Abdi)
  • Django Livre (Christoph Waltz)
  • O Mestre (Philip Seymour Hoffman)
  • Mistérios de Lisboa (Ricardo Pereira)
  • Os Suspeitos (Jake Gyllenhaal)

Melhor Atriz Coadjuvante

  • Azul é a Cor Mais Quente (Léa Seydoux)
  • Branca de Neve (Maribel Verdú)
  • Os Miseráveis (Anne Hathaway)
  • Mistérios de Lisboa (Maria João Bastos)
  • Os Suspeitos (Melissa Leo)

 Melhor Roteiro Original

  • Amor (Michael Haneke)
  • Antes da Meia Noite (Ethan Hawke, Julie Delpy & Richard Linklater)
  • A Caça (Thomas Vinterberg & Tobias Lindholm)
  • A Hora Mais Escura (Mark Boal)
  • Os Suspeitos (Aaron Guzikowski)

  Melhor Roteiro Adaptado

  • Capitão Phillips (Billy Ray)
  • Killer Joe: Matador de Aluguel (Tracy Letts)
  • Mistérios de Lisboa (Carlos Saboga)
  • No (Pablo Larraín)
  • A Viagem (Tom Tykwer & Irmãos Wachowski)

Melhor Montagem

  • Branca de Neve (Fernando Franco)
  • Capitão Phillips (Christopher Rouse)
  • A Hora Mais Escura (Dylan Tichenor & William Goldenberg)
  • Rush: No Limite da Emoção (Daniel P. Hanley & Mike Hill)
  • A Viagem (Alexander Berner)

 Melhor Fotografia

  • Anna Karenina (Seamus McGarvey)
  • Branca de Neve (Kiko de la Rica)
  • Capitão Phillips (Barry Ackroyd)
  • Gravidade (Emmanuel Lubezki)
  • Os Suspeitos (Roger Deakins)

 Melhor Direção de Arte

  • Anna Karenina (Sarah Greenwood)
  • Círculo de Fogo (Andrew Neskoromny & Carol Spier)
  • A Espuma dos Dias (Stéphane Rosenbaum)
  • O Hobbit: A Desolação de Smaug (Dan Hannah)
  • A Viagem (Hugh Bateup & Uli Hanisch)

 Melhor Figurino

  • Anna Karenina (Jacqueline Durran)
  • Branca de Neve (Paco Delgado)
  • O Grande Gatsby (Catherine Martin)
  • Lincoln (Joanna Johnston)
  • Os Miseráveis (Paco Delgado)

 Melhor Trilha Sonora

  • Anna Karenina (Dario Marianelli)
  • Branca de Neve (Alfonso de Vilallonga)
  • Gravidade (Steven Price)
  • Homem de Aço (Hans Zimmer)
  • A Viagem (Johnny Klimek, Reinhold Heil & Tom Tykwer)

 Melhor Composição

  • Anna Karenina (“Overture”, de Dario Marianelli)
  • Círculo de Fogo (“Pacific Rim”, de Ramin Djawadi)
  • Gravidade (“Gravity”, de Steven Price)
  • Homem de Ferro 3 (“Can You Dig It”, de Brian Tyler)
  • O Resgate (“Stolen Theme”, de Mark Isham)

 Melhor Canção

  • A Coleção Invisível (“Teus Olhos Cansados”, de Flavio Juliano e Silvain Vanot)
  • Detona Ralph (“Wreck-It, Wreck-It Ralph”, de Jamie Houston)
  • O Hobbit: A Desolação de Smaug (“I See Fire”, de Ed Sheeran)
  • Muito Barulho Por Nada (“Lift Our Hearts”, de Jed Whedon)
  • Oblivion (“Oblivion”, de Anthony Gonzalez e Susanne Sundfør)

 Melhor Maquiagem

  • O Cavaleiro Solitário (Joel Harlow)
  • O Hobbit: A Desolação de Smaug (Peter King, Rick Findlater & Tami Lane)
  • Lincoln (Kay Georgiou & Lois Burwell)
  • Os Miseráveis (Julie Dartnell & Lisa Westcott)
  • Star Trek: Além da Escuridão (Don Lanning, Don Rutherford, Mary L. Mastro)

 Melhor Som

  • Capitão Phillips (Chris Burdon, Chris Munro, Dillon Bennett, James Harrison, Michael Fentum, Mike Prestwood Smith, Oliver Tarney, Pud Cusack, Simon Chase, Tim Fraser)
  • Círculo de Fogo (Csaba Wagner, Glen Gauthier, Nerses Gezalyan, Scott Martin Gershim, Stephen P. Robinson, Tim Waltson)
  • Gravidade (Ben Barker, Danny Freemantle, Glenn Freemantle, Niv Adiri, Skip Lievsay)
  • Os Miseráveis (Andy Nelson, Mark Paterson, Simon Hayes)
  • Rush: No Limite da Emoção (Danny Hambrook, Frank Kruse, Markus Stemler, Stefan Korte, Steve Little)

 Melhores Efeitos Visuais

  • Círculo de Fogo (Eddie Pasquarello, Hal T. Hickel, James E. Price, John Knoll, Zachary Tucker)
  • Elysium (Eric Nordby, Grady Cofer,  Jonathan Harb, Mark Breakspear, Peter Muyzers, Stephen Pepper, Votch Levi)
  • Gravidade (Tim Webber)
  • O Hobbit: A Desolação de Smaug (Eric Saindon, David Clayton, Joe Letteri, R. Christopher White)
  • Star Trek: Além da Escuridão (Ben Grossman, Burt Dalton, Jason Richardson, Patrick Roos, Paul Kavanagh)

 

Aqui a distribuição de indicações:

8 – Capitão Philips
7 – Gravidade | Mistérios de Lisboa | Os Suspeitos
5 – Anna Karenina | Branca de Neve
4 – Círculo de Fogo | O Hobbit: A Desolação de Smaug | A Hora Mais Escura | Os Miseráveis | A Viagem
3 – A Caça | Rush: No Limite da Emoção
2 – Amor | Antes da Meia Noite | Azul é a Cor Mais Quente | Killer Joe: Matador de Aluguel | Lincoln | O Mestre | Muito Barulho Por Nada | Star Trek: Além da Escuridão
1 – Blue Jasmine | O Cavaleiro Solitário | A Coleção Invisível | Detona Ralph | Django Livre | Elysium | A Espuma dos Dias | Ferrugem e Osso | O Grande Gatsby | Homem de Aço | Homem de Ferro 3 | Oblivion | O Resgate

E aqui a relação dos vencedores:

5 – Gravidade
3 – Os Suspeitos
2 – Os Miseráveis | A Viagem
1 – Anna Karenina | Azul é a Cor Mais Quente | A Coleção Invisível | O Grande Gatsby | Homem de Ferro 3 | Killer Joe: Matador de Aluguel | O Mestre

Por fim, as revelações do ano:

  • Aaron Guzikowski (roteirista, Os Suspeitos)
  • Adèle Exarchopoulos (atriz, Azul é a Cor Mais Quente)
  • Barkhad Abdi (ator, Capitão Philips)
  • Isabelle Allen (atriz, Os Miseráveis)
  • Joey King (atriz, Invocação do Mal)
  • Jóhann Jóhannsson (compositor, Mama/Os Suspeitos)
  • Marine Vacth (atriz, Jovem e Bela)
  • Soko (atriz, Augustine)
  • Steven Price (compositor, Gravidade)

E a lista de todos os filmes vistos no ano, com a nota de 1 a 5 ao lado.

  1. 2 Filhos de Francisco (Brasil, 2005) – ****
  2. 2001: Uma Odisseia no Espaço (2001: A Space Odyssey, EUA, 1968) – ****
  3. 2019: O Ano da Extinção (Daybreakers, Austrália/EUA, 2009) – ***
  4. A. I. Inteligência Artificial (A. I. Arfiticial Intelligence, EUA, 2001) – ***
  5. Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros (Abraham Lincoln: Vampire Hunter, EUA, 2012) – **
  6. Acorrentados (The Defiant Ones, EUA, 1958) – *****
  7. Ajuste Final (Miller’s Crossing, EUA, 1990) – *****
  8. Alguém Me Vigia (Someone’s Watching Me, EUA, 1978) – ***
  9. Almas Gêmeas (Heavenly Creatures, Nova Zelândia, 1994) – ****
  10. Alucinações do Passado (Jacob’s Ladder, EUA, 1990) – ****
  11. Amante da Rainha, O (En Kongelig Affære, Dinamarca, 2012) – ***
  12. Amor (Amour, Áustria/França, 2012) – *****
  13. Amor Pleno (To The Wonder, EUA, 2013) – ****
  14. Anna Karenina (Anna Karenina, Inglaterra, 2012) – ****
  15. Anônimo (Anonymous, Inglaterra, 2011) – ****
  16. Antes do Amanhecer (Before Sunrise, EUA, 1995) – *****
  17. Antes da Meia Noite (Before Midnight, EUA, 2013) – *****
  18. Antes do Pôr do Sol (Before Sunset, EUA, 2004) – *****
  19. Anticristo (Antichrist, Dinamarca, 2009) – *****
  20. Aquário (Fish Tank, Inglaterra, 2009) – ****
  21. Argo (Argo, EUA, 2012) – *****
  22. Arizona Nunca Mais (Raising Arizona, EUA, 1987) – ****
  23. Armageddon (Armageddon, EUA, 1998) – ***
  24. Assalto à 13º DP (Assault on Precinct 13, EUA, 1976) – ****
  25. Até Que a Sorte nos Separe 2 (Brasil, 2013) – *
  26. Através de um Espelho (Såsom i en Spegel, Suécia, 1961) – ****
  27. Augustine (Augustine, França, 2012) – ***
  28. Aventuras de Pi, As (Life of Pi, EUA, 2012) – ****
  29. Aventuras de Tintin: O Segredo do Licorne, As (The Adventures of Tintin: The Secret of the Unicorn, EUA, 2011) – ****
  30. Aventureiros do Bairro Proibido, Os (Big Trouble in Little China, EUA, 1986) – ***
  31. Azul é a Cor Mais Quente (La Vie D’Adèle, França, 2013) – *****
  32. Bird (Bird, EUA, 1988) – **
  33. Blue Jasmine (Blue Jasmine, EUA, 2013) – ****
  34. Branca de Neve (Blancanieves, Espanha, 2012) – ****
  35. Brown Bunny, The (The Brown Bunny, EUA, 2003) – ***
  36. Bruma Assassina, A (The Fog, EUA, 1980) – **
  37. Caça, A (Jagten, Dinamarca, 2012) – *****
  38. Caça aos Gângsteres (Gangster Squad, EUA, 2013) – ****
  39. Calor da Noite, No (In The Heat Of The Night, EUA, 1967) – *****
  40. Camille Claudel, 1915 (Camille Claudel, 1915, França, 2013) – ***
  41. Candidatos, Os (The Campaign, EUA, 2012) – ***
  42. Canibal Holocausto (Cannibal Holocaust, Itália, 1980) – ****
  43. Capital, O (Le Capital, França, 2012) – *****
  44. Capitão Phillips (Captain Phillips, EUA, 2013) – *****
  45. Carlos, O Chacal (Carlos, França, 2010) – *****
  46. Carne (Carne, França, 1991) – ***
  47. Casa Silenciosa, A (Silent House, EUA, 2011) – ****
  48. Casablanca (Casablanca, EUA, 1942) – *****
  49. Cavaleiro Solitário, O (The Lone Ranger, EUA, 2013) – ****
  50. Caverna dos Sonhos Esquecidos (Cave of Forgotten Dreams, Alemanha/França, 2010) – ****
  51. Christine: O Carro Assassino (Christine, EUA, 1983) – ****
  52. Cidade das Sombras (Dark City, EUA, 1998) – *****
  53. Cinzas do Passado (Dung Che Sai Duk, Hong Kong, 1994) – ***
  54. Círculo de Fogo (Pacific Rim, EUA, 2013) – *****
  55. Closer: Perto Demais (Closer, Inglaterra, 2004) – ****
  56. Clube dos Cinco (The Breakfast Club, EUA, 1985) – *****
  57. Código de Honra (Puncture, EUA, 2011) – ****
  58. Coleção Invisível, A (Brasil, 2012) – ****
  59. Como Roubar Um Milhão de Dólares (How to Steal a Million, EUA, 1966) – ****
  60. Corpo Que Cai, Um (Vertigo, EUA, 1958) – ****
  61. Cosmópolis (Cosmopolis, Canadá, 2012) – ***
  62. Cozzilla (Godzilla, EUA/Itália/Japão, 1977) – ***
  63. Cypher (Cypher, Canadá/EUA, 2002) – ****
  64. Dark Star (Dark Star, EUA, 1974) – *
  65. Death Game (Death Game, EUA, 1977) – ****
  66. Delicatessen (Delicatessen, França, 1991) – ****
  67. Detona Ralph (Wreck-It Ralph, EUA, 2012) – *****
  68. Discurso do Rei, O (The King’s Speech, Inglaterra, 2010) – ***
  69. Ditador, O (The Dictator, EUA, 2012) – ***
  70. Django Livre (Django Unchained, EUA, 2012) – *****
  71. Doctor Who: The Day Of The Doctor (Doctor Who: The Day Of The Doctor, Inglaterra, 2013) – *****
  72. Doctor Who: The Movie (Doctor Who: The Movie, Inglaterra, 1996) – **
  73. Dragon Ball Z: A Batalha dos Deuses (Dragon Ball Z: Kami to Kami, Japão, 2013) – ***
  74. E.T: O Extraterrestre (E.T: The Extraterrestrial, EUA, 1984) – *****
  75. Eclipse, O (L’Eclipsse, Itália, 1962) – ****
  76. Elefante Branco (Elefante Blanco, Argentina, 2012) – ****
  77. Elysium (Elysium, EUA, 2013) – ****
  78. Enigma de Outro Mundo, O (The Thing, EUA, 1982) – ***
  79. Entidade, A (Sinister, EUA, 2012) – ****
  80. Espuma dos Dias, A (L’écume des Jours, França, 2013) – ****
  81. Estranha Obsessão (La Femme du Vème, França/Inglaterra/Polônia, 2011) – ***
  82. Eu, Anna (I, Anna, Inglaterra, 2012) – ***
  83. Exercício do Poder, O (L’exercice de L’etat, França, 2011) – ****
  84. Fabuloso Doutor Dolittle, O (Doctor Dolittle, EUA, 1967) – **
  85. Fahrenheit 11 de Setembro (Fahrenheit 9/11, EUA, 2004) – *****
  86. Farrapo Humano (The Lost Weekend, EUA, 1945) – *****
  87. Ferrugem e Osso (De Rouille et D’os, França, 2013) – ****
  88. Flores Raras (Brasil, 2013) – ***
  89. Fuga de Nova York (Escape From New York, EUA, 1981) – *****
  90. Gosto de Sangue (Blood Simple, EUA, 1984) – ****
  91. Grande Gatsby, O (The Great Gatsby, EUA, 2013) – ***
  92. Gravidade (Gravity, EUA, 2013) – *****
  93. Grito, O (Ju-on, Japão, 2002) – **
  94. Guerra Mundial Z (World War Z, EUA, 2013) – ****
  95. Hobbit: A Desolação de Smaug, O (The Hobbit: The Desolation Of Smaug, EUA/Nova Zelândia, 2013) – ****
  96. Homem ao Lado, O (El Hombre de Al Lado, Argentina, 2009) – ****
  97. Homem de Aço (Man Of Steel, EUA, 2013) – ****
  98. Homem de Ferro 3 (Iron Man 3, EUA, 2013) – ****
  99. Hora Mais Escura, A (Zero Dark Thirty, EUA, 2012) – *****

100.Hospedeira, A (The Host, EUA, 2013) – *
101.Imaginaerum (Imaginaerum, Canadá/Finlândia, 2012) – *****
102.Impossível, O (Lo Imposible, Espanha, 2012) – *****
103.Incêndios (Incendies, Canadá, 2010) – *****
104.Inimigo Meu (Enemy Mine, EUA, 1985) – *****
105.Invasora, A (À L’intérieur, França, 2007) – ****
106.Invocação do Mal (The Conjuring, EUA, 2013) – ****
107.Jack Reacher: O Último Tiro (Jack Reacher, EUA, 2012) – ****
108.João e Maria: Caçadores de Bruxas (Hansel & Gretel: Witch Hunters, EUA, 2013) – ***
109.Jogo Subterrâneo (Brasil, 2005) – ***
110.John Carter: Entre Dois Mundos (John Carter, EUA, 2012) – **
111.Jovem e Bela (Jeune & Jolie, França, 2013) – ****
112.Justiceiro Mascarado, O (Franklyn, França/Inglaterra, 2008) – ****
113.Kagemusha: A Sombra do Samurai (Kagemusha, Japão, 1980) – ***
114.Killer Joe: Matador de Aluguel (Killer Joe, EUA, 2011) – *****
115.Lado Bom da Vida, O (Silver Linings Playbook, EUA, 2012) – *****
116.Lenda do Tesouro Perdido: O Livro dos Segredos, A (National Treasure: Book Of Secrets, EUA, 2007) – ***
117.Lincoln (Lincoln, EUA, 2012) – ***
118.Mama (Mama, EUA, 2013) – **
119.Mão do Diabo, A (Frailty, EUA, 2001) – **
120.Mercenários 2, Os (The Expendables 2, EUA, 2012) – ***
121.Mestre, O (The Master, EUA, 2012) – *****
122.Metallica: Through The Never (Metallica: Through The Never, EUA, 2013) – ***
123.Miseráveis, Os (Les Miserábles, EUA, 2012) – ***
124.Mistérios de Lisboa (Mistérios de Lisboa, Portugal, 2010) – *****
125.Monstros S.A. (Monsters, Inc., EUA, 2001) – *****
126.Moulin Rouge! Amor em Vermelho (Moulin Rouge!, EUA, 2001) – ****
127.Muito Barulho Por Nada (Much Ado About Nothing, EUA, 2013) – ****
128.Mulan (Mulan, EUA, 1998) – *****
129.Nascido Para Matar (Full Metal Jacket, EUA, 1987) – ****
130.Nikos, o Empalador (Nikos, Alemanha, 2003) – *
131.No (No, Chile, 2012) – *****
132.Nove Crônicas Para um Coração aos Berros (Brasil, 2013) – ***
133.Oblivion (Oblivion, EUA, 2013) – ****
134.Onze Homens e um Segredo (Ocean’s Eleven, EUA, 2001) – *****
135.Os Outros (The Others, EUA, 2001) – ****
136.Parker (Parker, EUA, 2013) – *
137.Pavor nos Bastidores (Stage Fright, EUA, 1950) – ****
138.Perseguição, A (The Grey, EUA, 2011) – ****
139.Pietá (Pieta, Coréia do Sul, 2012) – ****
140.Piratas do Caribe: No Fim do Mundo (Pirates Of The Caribbean: At World’s End, EUA, 2007) – *****
141.Preço do Amanhã, O (In Time, EUA, 2011) – ****
142.Prelúdio Para Matar (Profondo Rosso, Itália, 1975) – ****
143.Príncipe das Sombras (Prince of Darkness, EUA, 1987) – *
144.Quanto Mais Quente Melhor (Some Like It Hot, EUA, 1959) – ****
145.Quarteto, O (Quartet, Inglaterra, 2012) – ****
146.Quero Matar Meu Chefe (Horrible Bosses, EUA, 2011) – ***
147.R. I. P. D: Agentes do Além (R. I. P. D, EUA, 2013) – ***
148.Rape Zombie: A Luxúria dos Mortos (Reipu zonbi: Lust of the Dead, Japão, 2012) – *
149.Reality da Morte (The Task, EUA, 2011) – **
150.Reino de Fogo (Reign of Fire, EUA/Inglaterra, 2002) – ***
151.Resgate, O (Stolen, EUA, 2012) – ***
152.Riddick 3 (Riddick, EUA, 2013) – ****
153.Rota de Fuga (Escape Plan, EUA, 2013) – ***
154.Rush: No Limite da Emoção (Rush, EUA, 2013) – ****
155.Segredo da Cabana, O (The Cabin In The Woods, EUA, 2012) – *****
156.Segredo das Joias, O (The Asphalt Jungle, EUA, 1950) – *****
157.Sessões, As (The Sessions, EUA, 2012) – ***
158.Sete Psicopatas e um Shih Tzu (Seven Psychopaths, Inglaterra, 2012) – ***
159.Shaft (Shaft, EUA, 2000) – ***
160.Sobrenatural (Insidious, EUA, 2011) – ***
161.Som ao Redor, O (Brasil, 2013) – ***
162.Sorte em Suas Mãos, A (La Suerte en Tus Manos, Argentina, 2012) – ***
163.Sozinho Contra Todos (Seul Contre Tous, França, 1998) – ****
164.Star Trek (Star Trek, EUA, 2009) – *****
165.Star Trek: Além da Escuridão (Star Trek: Into Darkness, EUA, 2013) – *****
166.Starman: O Homem das Estrelas (Starman, EUA, 1984) – **
167.Suspeitos, Os (Prisoners, EUA, 2013) – *****
168.Suspiria (Suspiria, Itália, 1977) – *****
169.Swimming Pool: À Beira da Piscina (Swimming Pool, França/Inglaterra, 2003) – ****
170.Tabloide (Tabloid, EUA, 2010) – ****
171.Tabu (Tabu, Portugal, 2012) – ****
172.Tarde Demais Para Esquecer (An Affair to Remember, EUA, 1957) – ****
173.Tempo e o Vento, O (Brasil, 2013) – **
174.Terapia de Risco (Side Effects, EUA, 2013) – ****
175.Tese Sobre um Homicídio (Tesis sobre un Homicidio, Argentina, 2013) – ****
176.Thor: O Mundo Sombrio (Thor: The Dark World, EUA, 2013) – ****
177.Todos os Meus Amigos São Cantores de Funeral (All My Friends Are Funeral Singers, EUA, 2010) – *
178.Toque de Pecado, Um (Tian Zhu Ding, China, 2013) – ***
179.Tortura do Silêncio, A (I Confess, EUA, 1953) – ****
180.Tropa de Elite (Brasil, 2007) – *****
181.Tropa de Elite 2 (Brasil, 2010) – *****
182.Tudo Que Você Sempre Quis Saber Sobre Sexo Mas Tinha Medo de Perguntar (Everything You Always Wanted To Know About Sex But Were Afraid To Ask, EUA, 1972) – ***
183.Viagem, A (Cloud Atlas, Alemanha/EUA/Hong Kong, 2012) – *****
184.Vida Secreta de Walter Mitty (The Secret Life Of Walter Mitty, EUA, 2013) – ****
185.Vingadores, Os (The Avengers, EUA, 2012) – *****
186.Vingança Sem Limites (The Girl From The Naked Eye, EUA, 2012) – ***
187.Voo, O (Flight, EUA, 2012) – ***
188.Weekend à Francesa (Week End, França, 1967) – ****
189.Woody Allen: Um Documentário (Woody Allen: A Documentary, EUA, 2012) – ****
190.Zift (Zift, Bulgária, 2008) – ***
191.Zombie: O Despertar dos Mortos (Dawn Of The Dead, EUA/Itália, 1978) – *****
192.Zombio 2: Chimarrão Zombies (Brasil, 2013) – **

É isso aí, pessoal.

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Carrie

20/12/2013

Saí de casa com a intenção de conferir o filme da lésbica gata de cabelo azul, mas o ônibus demorou demais, e tive que improvisar.

Carrie - cartaz

Acabei vendo Carrie: A Estranha (Carrie, EUA, 2013), e fiquei com vontade de comentar algumas coisas.

Primeiro já vou deixar claro que eu não gosto do filme de 1976 do Brian De Palma. Não entendo mesmo a babação de ovo em cima desse suposto “clássico” do terror, que de competente tem apenas as performances de Sissy Spacek e Piper Laurie.

Aviso também que li o livro, mas que não acho o livro grande coisa, e que, se eu comentar a “adaptação”, será apenas a título de curiosidade, pois acredito que um filme deva ser analisado como um filme que sabe caminhar sozinho, independente do material original (que seria o andador, dentro dessa metáfora – e vale lembrar que médicos não recomendam que a criança use um andador na hora de aprender a caminhar sozinha).

Por último, mas não menos importante, vou declarar de uma vez que eu gostei mais desse filme que do “original”. Esse Carrie versão Séc. XXI sofre de praticamente todos os mesmos problemas daquele primeiro, mas não é tão cafona, e tem uma cena clímax infinitamente melhor montada. Só por isso, já ganha minha simpatia.

Então, começando pelo começo, um começo que é bom para já evidenciar a demência da Mãe, Margaret White (Jennifer Moore), uma crente no pior e mais extremo sentido possível da palavra. E um começo que, porém, também já tenta escancarar os poderes telecinésicos da Filha, Carrie White (Chloë Grace Moretz), e força um pouco a barra nesse quesito, já denunciando um dos problemas que irão permanecer pelo filme todo: CGI de montão.

Depois, o meio. Assim como o roteirista Lawrence D. Cohen ratiou umas décadas atrás, ele rateia de novo (dessa vez junto com Roberto Aguirre-Sacasa): o segundo ato do filme passa muito rápido. O drama de Carrie é pouco desenvolvido. São poucas as situações do cotidiano sofrido da protagonista que são mostradas e, quando são, a diretora Kimberly Peirce pesa a mão na abordagem da coisa, deixando a sutileza a ver navios, com todo o elenco de apoio se encontrando obrigado a fazer caretas zombeteiras e risadinhas temperadas de bullying em quase toda cena, que a diretora faz questão de destacar nos enquadramentos, e tudo fica caricaturizado demais, perdendo força dramática – os corredores da escola acabam lembrando em vários momentos, sim, coisas como American Pie e outros besteiróis “high school” do gênero.

Essa é a grande falha de todas as adaptações do livro de estreia do Stephen King. Porque, no livro, recheando todas as peripécias e maldades adolescentes que Carrie precisa enfrentar, estão pedaços de livros dentro do livro comentando o derradeiro episódio do final da história. São vários pontos de vista diferentes, a maioria bem absurda e se contradizendo, e isso ajuda a passar uma impressão de incerteza e tensão sobre a narrativa que vamos acompanhando. Porém, se em literatura essa estratégia narrativa até que funciona em alguma medida, no cinema ela estaria fadada ao fracasso (exceto nas mãos de um cara muito criativo, quem sabe). Então, espertamente, o roteiro de Cohen e Aguirre-Sacasa deixou esse detalhe de lado. Mas falhou em não desenvolver melhor os acontecimentos que acontecem entre o primeiro e o segundo ato.

Carrie - mãe

Tanto que, embora Julianne Moore chegue a assustar o espectador apenas com o olhar, a dinâmica entre sua personagem e Carrie não consegue alcançar o drama necessário. Sim, a menina é trancada no closet e obrigada a rezar por perdão, mas é amparada pela mãe logo depois. No livro, a mãe de Carrie é muito pior. No filme de 1976, também. O terrorismo psicológico não aparece na medida certa, e isso é devido ao parco desenvolvimento que o roteiro faz do segundo ato. Ao invés de construir a relação de Carrie com a mãe de forma mais lenta e intensa, o que geraria um drama realmente forte em uma derradeira cena perto do final, os roteiristas preferem lançar uma que outra cena de Margaret White murmurando preces cristãs autodepreciativas enquanto briga verbalmente com a filha. E ao invés de construir uma relação mais intensa entre Carrie e os outros personagens, os roteiristas preferem focar em Carrie descobrindo seus poderes de telecinese (e mesmo assim o domínio dela sobre eles acontece rápido demais).

Ainda nessa etapa, a personagem Sue Snell (Gabriella Wilde), que tem um papel primordial no desenrolar da trama, é retratada com uma superficialidade tremenda, em nenhum momento demonstrando o pesado arrependimento da menina depois de participar da humilhação de Carrie no chuveiro. A atriz Gabriella Wilde também não ajuda, mais parecendo (visual e emocionalmente) uma Barbie que um ser humano (e até isso é injusto dizer, porque a Barbie de Toy Story 2 é muito expressiva) – péssima escolha de casting, por sinal, já que a Sue descrita por King não teria como ser mais diferente que a “loirosidade” nórdica de Wilde.

Por sorte, a detestável Chris Hargensen (Portia Doubleday) teve sua maldade e canalhice muito bem retratada no roteiro e na atuação de Portia Doubleday, que chega até a lembrar a diva Regina “Bitch” George vivida por Rachel McAdams em Meninas Malvadas. Doubleday consegue convencer muito bem como aquela menina popular que adoramos odiar. E se a Sue Snell de Gabriella Wilde surge expressiva como uma porta, pelo menos seu namorado Tommy Ross (Ansel Elgort) cativa pelo carisma do estreante Ansel Elgort, que consegue fazer de Tommy um personagem mais completo do que suas superficiais e breves falas no roteiro dariam a entender nas mãos de alguém menos esforçado.

Judy Greer está perfeita como a professora de educação física Srta. Desjardin, e mais uma vez reclamo da preguiça do roteiro em criar situações de interação entre ela e outros personagens. Pois, se em um momento a vemos consolando Carrie, que desaba em choro depois de acreditar ter sido motivo de mais uma piada, na cena seguinte já a vemos confrontando Tommy e Sue pela tentativa deles de levar Carrie ao baile (motivo que fazia Carrie chorar). Esse diálogo era essencial para estabelecer o tom do drama que estaria por vir, e o filme simplesmente passa atropelando por ele.

Carrie - banho

Chloë Grace Moretz mais uma vez prova que é uma das maiores descobertas recentes do cinema norte-americano, e esbanja seu talento precoce sem a menor dificuldade ao dar corpo e alma a uma personagem tão estigmatizada quanto Carrie White. Mesmo o fato de suas companheiras de elenco serem quase 10 anos mais velhas não tira a força de seu trabalho. Sim, o casting é uma merda por colocar uma guria de 16 anos envolta de um mar de piriguetes de 20 e poucos. A atuação da maioria delas está ok, bem de acordo com a mentalidade banal de adolescentes do último ano do colégio, mas é visualmente bizarro ver uma protagonista tão mais criança que suas colegas. Repito: o problema não é falta (ou excesso) de maturidade na atuação, e sim a disparidade visual entre as atrizes.

Nessa parte da equação entra outro problema, que a fofa Chloë Moretz se esforça ao máximo para superar: Chloë Grace Moretz é linda demais para ser Carrie White. Por mais bagunçado que seu cabelo fique, por mais caretas que sejam suas roupas, por mais reprimida que seja sua postura, por mais triste que seja seu olhar, Chloë Moretz é muito linda, querida, amável, e é complicadíssimo acreditar que ela sofreria bullying de suas colegas de aula apenas por ser “estranha” (notem como a tradução do título no Brasil reforça o preconceito que a história tenta denunciar, como se, só por Carrie ser supostamente estranha, estaria livre para ser tratada com crueldade).

 

Carrie - ensanguentada provocativamente

É ou não é uma gracinha?

Portanto, mesmo que as sequências entre Carrie e sua mãe sejam construídas às pressas (como quase tudo no roteiro, aliás), ali o drama funciona melhor, pois é possível de interpretar que pelo menos parte do ódio da mãe seja cativado pela inveja que sente da beleza da filha. Pena que essa interpretação seja apenas unilateral, pois não se aplica ao restante do filme (embora fosse muito interessante se o longa trabalhasse essa questão, invertendo as expectativas). Cabe destacar, apesar de tudo, que Chloë e Moore apresentam uma baita dinâmica de atuação, com a pequena jamais ficando intimidada com a experiência da grande.

Por fim, o fim. Vou retomar o que eu mencionei mais acima: CGI demais. Um dos grandes méritos do longa original (ainda que por falta de opção), era apostar em efeitos mecânicos, com estragos que pareciam mais reais, justamente por não serem computadorizados. Aqui, a diretora Kimberly Peirce abusa dos animadores gráficos, e lança jorros de sangue virtual para todos os lados, raramente acertando na intensidade: vale destacar positivamente o cara que é prensado na arquibancada e negativamente o balde de sangue que cai em cima de Carrie. Veja só, o momento mais importante do filme é zoado, e Peirce não se segura e repete o mesmo erro escroto de Palma, mostrando vários ângulos do estrago: a cena do sangue de porco se espalhando sobre Carrie é repetida umas quatro vezes. Essa insistência, no lugar de intensificar a tensão, a dilui, tirando a força dramática da peça maligna pregada pelo casal filho da puta Chris Hargensen e Billy Nolan (Alex Russell).

No entanto, felizmente, FELIZMENTE, Kimberly Peirce acerta em cheio na decupagem do massacre que Carrie inicia após sair do choque que sentiu ao se encontrar coberta em sangue de porco na frente de todo mundo. Kimberly Peirce, você ganha meus parabéns por isso! E não escute os haters viúvos do filme 1976! Tirando o CGI exagerado de alguns momentos (aquele para-brisa se espatifando, por quê?), você fez o certo, e mostrou a destruição com calma, atenção, evitando aquela bagaceríssima tela dividida que De Palma tinha usado, e passando longe dos efeitos sonoros vagabundos que embalavam de forma incrivelmente cafona o tenso olhar arregalado de Sissy Spacek.

 

Junto com o montador Lee Percy, Kimberly consegue compor uma cena formidável onde um bando de adolescentes entra em pânico e começa a correr apavorado, a maioria morrendo no processo (destaque para as gêmeas que são pisoteadas). E ainda que seja uma pena o salão bem decorado pela diretora de arte Carol Spier não ter sido melhor explorado pela fotografia de Steve Yedlin nos momentos do baile que precediam o clímax da história (como é que Chris e Billy conseguiram entrar e sair tão facilmente sem serem vistos?), é revigorante ver a pequena Carrie aplicando sua vingança, em um momento de êxtase do espectador que lembra o glorioso e emblemático final de Dogville. Sim, estou positivamente comparando o remake meia boca de Carrie a um filme do Lars Von Trier. E sim, eu sinceramente acredito que aquele bando de gente merecia morrer (nos dois filmes).

Toda a destruição que acontece nessa cena é sensacional, principalmente porque dá ver o que raios está acontecendo! Ao contrário do que ocorria no filme do De Palma, aqui acompanhamos a ação de modo compreensível, e saboreamos da vingança de Carrie junto com ela. E Chloë Moretz manda a ver. Coberta de sangue, ela se mostra devidamente puta com o mundo, e gesticula e mostra os dentes com toda a raiva acumulada por anos de maus tratos. E o mais legal é ver a pequena demonstrando o prazer sádico da personagem naquilo tudo (um prazer merecido), sem, no entanto, fazer Carrie soar uma psicopata que recém descobriu sua psicopatia. A satisfação ali vem acompanhada da libertação da raiva, da descoberta da liberdade tardia. Não dá pra julgar a Carrie.

Carrie evil

Após esse momento bala, que é o melhor momento do filme e que não deveria ser o melhor momento do filme, infelizmente, o filme encerra de forma insatisfatória – e não haveria de ser diferente. Já que todo o drama da narrativa até ali foi feito nas coxas, é óbvio que o final, que é para ser o momento mais intenso de tudo, o pico dramático, não funciona como deveria. Não vou revelar nenhuma informação relevante, não há necessidade de spoilers para criticar esse final. Ele não funciona porque o resto do filme não foi feito direito, e eras isso. Só pergunto uma coisa sobre a penúltima cena: de onde saiu tanta pedra?? É muita pedra e, de novo, muito CGI escorrendo pela tela.

Filme de terror não pode ter tanto CGI assim, caramba! Ainda mais um cuja trama tenha sua força central calcada no terror psicológico, e não no gore, e esse é outro motivo que faz esse novo Carrie não funcionar tão bem: dar mais atenção ao gore que aos elementos psicológicos. Além de apostar no gore, é um gore digital. Tudo errado. E aquela lápide… porra!

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O mês em que mais vi filmes

18/11/2013

Sim, eu escrevi outras críticas nesse meio tempo, postei no Fila K e deixei o Fakeline de lado, mas isso não importa. Como eu fui ver o número de acessos do blog, e tudo continua numa média de 20 por dia, mesmo com meses sem posts novos, decidi que valia a pena tentar reviver a brincadeira aqui.

E o primeiro passo para fazer isso, me parece, é comentar sobre esse Outubro de 2013, que foi de longe o mês em que mais vi filmes.

Então agora seguem comentários brevíssimos, ou nem tanto, sobre todos esses filmes:

01 – O Enigma de Outro Mundo (The Thing, EUA, 1982) – ***

O suspense em alguns momentos é muito intenso e muito legal, o gore é excelente, e os sustos aparecem na medida certa. Mas os personagens são muito idiotas, em nada lembrando exploradores e cientistas baseados na Antártida.

01 – No Calor da Noite (In The Heat Of The Night, EUA, 1967) – *****

Intrigante desde os primeiros minutos, esse ótimo policial traz uma dinâmica perfeita entre Sydney Poitier e Rob Steiger e uma discussão importante sobre racismo e decisões precipitadas.

01 – The Brown Bunny (The Brown Bunny, EUA, 2003) – ***

O filme que ficou famoso graças à injustamente infame cena do boquete que a Chloë Sevigny faz no Vincent Gallo. A narrativa é construída bem devagar, com longos planos de vão do nada ao lugar nenhum, tudo para apresentar o estado de espírito deprimido do protagonista. Esteticamente é interessante, mas também muito arrastado e chato.

01 – 2019: O Ano da Extinção (Daybreakers, Austrália/EUA, 2009) – ***

O roteiro faz uma abordagem não usual a respeito do tema “filme de vampiros”, criando metáforas interessantes para a descriminação racial e étnica, mas a trama deixa a desejar.

01 – Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros (Abraham Lincoln: Vampire Hunter, EUA, 2012) – **

As cenas em câmera lenta do personagem título destruindo “vampiros” com o machado são legais. O resto é um lixo. E não botei aspas em “vampiros” por acaso, já que, andando em plena luz do sol, em momento algum aquelas criaturas lembram vampiros.

02 – Gosto de Sangue (Blood Simple, EUA, 1984) – ****

O primeiro filme dos Irmãos Coen tem uma trama simples, mas é incrivelmente tenso e consegue explorar os máximos de situações ordinárias.

02 – Christine: O Carro Assassino (Christine, EUA, 1983) – ****

Pouco sangue e quase nenhuma cena de morte, mas muito desenvolvimento de personagens e bastante suspense fazem desse um dos melhores filmes do John Carpenter – e uma das melhores adaptações de Stephen King, arrisco dizer.

02 – Arizona Nunca Mais (Raising Arizona, EUA, 1987) – ****

Depois de um show de tensão, os Coen chamam Nicolas Cage e fazem uma comédia atípica, original e divertidíssima.

03 – Como Roubar Um Milhão de Dólares (How to Steal a Million, EUA, 1966) – ****

Fiquei com esse filme dentro da caixinha do DVD por meses porque a capa, os comentários, o elenco, absolutamente tudo dava a entender que seria uma comédia romântica. E é uma comédia romântica, só que é uma comédia romântica muito boa, e também é um heist movie criativo e divertido que rivaliza com Onze Homens e um Segredo.

03 – Rush: No Limite da Emoção (Rush, EUA, 2013) – ****

Alguns dizem que é o melhor filme já feito sobre Fórmula 1. Não sei, mas que é um filme muito bom, é sim, e é um dos melhores filmes do Ron Howard. As cenas de corrida estão entre os melhores momentos do cinema em 2013, Daniel Brühl vive um Nicki Lauda perfeito, e a trilha do Hans Zimmer é sensacional.

03 – Almas Gêmeas (Heavenly Creatures, Nova Zelândia, 1994) – ****

A interação entre Kate Winslet e Melanie Lynskey é tocante, a direção de Peter Jackson é incrivelmente delicada, e o final é destruidor de almas.

04 – Ajuste Final (Miller’s Crossing, EUA, 1990) – *****

Acho que esse é o melhor filme dos Coen. Certamente é aquele com o roteiro mais complexo.

05 – O Justiceiro Mascarado (Franklyn, França/Inglaterra, 2008) – ****

Um filme sobre histórias. Não se deixem enganar pelo título idiota em português. A parte do “justiceiro mascarado” é apenas uma parte do filme. Uma de várias histórias que se entrelaçam de forma surpreendente e criativa.

05 – Os Candidatos (The Campaign, EUA, 2012) – ***

É mediano na maior parte do tempo, mas tem momentos de brilhantismo e algumas críticas severas às campanhas políticas norte-americanas.

05 – Carne (Carne, França, 1991) – ***

Gaspar Noé no início de carreira já era cruel.

05 – Sozinho Contra Todos (Seul Contre Tous, França, 1998) – ****

Dando continuidade à história, iniciada em Carne, do açougueiro de cavalos que perde o emprego, a filha e se vê sem razão de viver, esse filme aqui consegue ser extremamente brutal e tocante ao mesmo tempo. Não sei como Noé conseguiu isso.

06 – Vingança Sem Limites (The Girl From The Naked Eye, EUA, 2012) – ***

As cenas de luta são muito bem coreografadas e divertidas, mas o filme perde a força quando tenta dar uma de noir e fazer o protagonista lançar monólogos pretensiosos no ar enquanto o roteiro pausa para flashbacks que quebram o ritmo da narrativa.

07 – Equilibrium (Equilibrium, EUA, 2002) – ****

Uma mistura da estética de Matrix e da narrativa de Um Vingador do Futuro e com várias nuances de ficção científica espalhadas pelo filme, esse é um excelente exemplo de filme de ação que não deixa a história de lado.

07 – Reino de Fogo (Reign of Fire, EUA/Inglaterra, 2002) – ***

A atmosfera é legal, o elenco é bom, e os efeitos são ótimos, mas a história é pouco interessante e mal desenvolvida.

08 – Cypher (Cypher, Canadá/EUA, 2002) – ****

Uma daquelas joias que vão direto para vídeo. Ficção científica divertida e cheia de reviravoltas inesperadas.

08 – Alucinações do Passado (Jacob’s Ladder, EUA, 1990) – ****

No final, nada faz muito sentido, mas a angústia e a tensão crescentes até lá são dificilmente ignoradas.

08 – Acorrentados (The Defiant Ones, EUA, 1958) – *****

Nessa crítica pesadíssima ao racismo, Sydney Poitier e Tony Curtis crescem como atores junto com o crescimento emocional dos seus emblemáticos e ricos personagens.

08 – Zift (Zift, Bulgária, 2008) – ***

Não dá para definir Zift em apenas um gênero. Por um lado, isso é bom, pois mostra que o filme é criativo e tenta sair do lugar comum. Por outro lado, é ruim, pois mostra que o roteiro e a direção não sabiam muito bem como fazer isso.

09 – O Grito (Ju-on, Japão, 2002) – **

Chato, mal feito e com poucos momentos de tensão, esse é mais um dos incompreensivelmente adorados exemplares do terror japonês.

10 – Metallica: Through The Never (Metallica: Through The Never, EUA, 2013) – ***

A história não existe e o projeto é apenas uma desculpa para exibir um show no Metallica no cinema. Mas quem conseguiu ver o “filme” no IMAX não se arrependeu, porque o som da banda naquele sistema de som sensacional do IMAX é algo para nunca mais esquecer.

11 – Riddick 3 (Riddick, EUA, 2013) – ****

Olha, eu não vi Eclipse Mortal, nem A Batalhe de Riddick, mas gostei bastante desse Riddick 3, que consegue se sustentar sozinho muito bem sem o arco narrativa dos filmes anteriores e oferece diversas cenas de suspense.

12 – Delicatessen (Delicatessen, França, 1991) – ****

O filme de estreia de Jean-Pierre Jeunet e Marc Caro é surpreendentemente criativo em todos os sentidos.

13 – O Fabuloso Doutor Dolittle (Doctor Dolittle, EUA, 1967) – **

Muito, muito, muito mais longo do que deveria e com números musicais sem a menor criatividade, é um filme chato pra caramba que só merece ser lembrado pelo discurso pró-direito dos animais.

14 – Starman: O Homem das Estrelas (Starman, EUA, 1984) – **

A única coisa interessante aqui é a atuação de Jeff Bridges, porque o resto ou é chato, ou não faz sentido, ou é esquecível.

15 – Dragon Ball Z: A Batalha dos Deuses (Dragon Ball Z: Kami to Kami, Japão, 2013) – ***

Divertido e engraçado, fazendo piadas a respeito dos clichês da série, o filme peca por não oferecer nada de novo.

16 – Os Suspeitos (Prisoners, EUA, 2013) – *****

Um dos melhores filmes do ano. Tenso, tocante e intrigante como poucos.

16 – Nove Crônicas Para um Coração aos Berros (Brasil, 2013) – ***

A primeira metade é arrastada e não parece justificar as várias histórias paralelas, mas aos poucos o filme engrena e demonstra um senso de humor maravilhoso.

17 – Rota de Fuga (Escape Plan, EUA, 2013) – ***

Stallone e Schwarzenegger juntos, só isso já vale o filme. A direção é suficientemente criativa para tentar mascarar os furos do roteiro, e Schwarzenegger tem a melhor atuação da sua carreira – e ele consegue isso apenas ao berrar em alemão enquanto finge um ataque de pânico.

17 – Gravidade (Gravity, EUA, 2013) – *****

Alfonso Cuarón sendo gênio e quebrando paradigmas cinematográficos. Um dos poucos filmes que literalmente me deixaram sem fôlego.

18 – Os Aventureiros do Bairro Proibido (Big Trouble in Little China, EUA, 1986) – ***

É divertido e tem algumas boas cenas de ação, mas o roteiro é tão viajado, que em momentos a história simplesmente se torna absurda demais.

19 – Death Game (Death Game, EUA, 1977) – ****

À parte o bigode excessivamente setentista do protagonista, o filme é incrivelmente tenso e cruel no seu retrato cru de um evento real.

19 – Incêndios (Incendies, Canadá, 2010) – *****

Acaba o filme e tu sente tua alma pisoteada e chutada pra longe. A narrativa é dramática e intrigante na medida certa, e o final é surpreendente e destruidor.

20 – Shaft (Shaft, EUA, 2000) – ***

Não fosse a intensidade de Samuel L. Jackson e a pilantrice de Christian Bale, esse seria apenas mais um filme policial.

21 – Carlos, O Chacal (Carlos, França, 2010) – *****

Esse filme é foda. São mais de cinco horas e quando acaba tu pensa que poderia ver mais cinco.

22 – A Mão do Diabo (Frailty, EUA, 2001) – **

Um daqueles casos em que o final estraga o filme todo.

23 – Aquário (Fish Tank, Inglaterra, 2009) – ****

Estreia chutadora de bundas da atriz Katie Jarvis nesse forte drama neorrealista da diretora Andrea Arnold.

23 – O Capital (Le Capital, França, 2012) – *****

Costa-Gavras mostra que continua afiado, não só como um bom diretor, mas como um crítico ferrenho do capitalismo selvagem, fazendo desse seu O Capital um excelente thriller passado dentro do mundo da especulação financeira.

23 – Gravidade (Gravity, EUA, 2013) – *****

Tão bom e intenso quanto da primeira vez.

24 – Os Mercenários 2 (The Expendables 2, EUA, 2012) – ***

Melhor que o primeiro, mas ainda longe da epicidade a que um elenco daqueles permitiria um bom diretor chegar.

25 – Quero Matar Meu Chefe (Horrible Bosses, EUA, 2011) – ***

Poderia contar com uma trama mais desenvolvida, mas independente disso consegue ser muito engraçado em vários momentos graças à boa dinâmica do elenco e a todas as cenas com Kevin Spacey.

25 – A. I. Inteligência Artificial (A. I. Arfiticial Intelligence, EUA, 2001) – ***

Estou até agora tentando entender porque tanta gente odeia esse filme.

26 – Príncipe das Sombras (Prince of Darkness, EUA, 1987) – *

Um lixo em todos os sentidos possíveis. Talvez o pior filme de John Carpenter (e só não afirmo com certeza porque ainda não vi todos).

27 – Fahrenheit 11 de Setembro (Fahrenheit 9/11, EUA, 2004) – *****

Só agora eu vi, ok? Mas, mesmo já sabendo de várias coisas apresentadas nesse documentário, ainda assim fiquei intrigado com a forma como Michael Moore foi desencravando as intrigas entre a família Bush e a família Bin Laden.

27 – Argo (Argo, EUA, 2012) – *****

Revisto depois de um ano, Argo continua intrigante e tenso na medida certa, e eu continuo discordando de quem reclama do terceiro ato.

28 – Sobrenatural (Insidious, EUA, 2011) – ***

Tem uma premissa melhor que seu desenvolvimento, mas ganha pontos por contar com personagens que fogem da imbecilidade presente em tantos outros filmes do gênero.

29 – Capitão Phillips (Captain Phillips, EUA, 2013) – *****

Paul Greengrass prova de uma vez por todas que é um dos melhores diretores da atualidade, e aquele que melhor consegue fazer suspense até da situação mais banal possível. Bônus por garantir que Tom Hanks entregue a melhor performance de sua carreira desde Náufrago.

Sim, não me perguntem como eu consegui ver tantos filmes ao longo de outubro e mesmo assim falhar em ver filmes nos últimos dois dias do mês.

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Muito Barulho Por Nada

03/09/2013

Digo-lhes, e resguardo não mais minhas palavras apenas a meus temores, que volto, ao menos ao que consta o momento presente, a escrever sobre a sétima arte, a mais bela e completa das artes para este humilde cinéfilo. Volto uma vez que inspirado pela chance que o filme Muito Barulho Por Nada (Much Ado About Nothing, EUA, 2013) oferece de me permitir fugir do padrão, ó o terrível e normativo padrão, que esteve presente na quase totalidade de meus rascunhos de crítica até hoje. Peço, então, vossa paciência para superar a estranheza inicial causada por essa atípica estruturação de frases.

Eis que lá, no grande ecrã, diante da nossa pequenez de espectadores, essa nova investida do Príncipe dos Nerds, o estimadíssimo Joss Whedon, vai se revelando aos poucos um belo estudo sobre a condição do verbo dramatúrgico nos dias de hoje, e sobre suas confluências com a linguagem audiovisual, que é essa enciclopédia cheia de significados ainda clamando para serem descobertos, testados, contestados. O filme, ainda, como não poderia deixar de ser, se conflui como uma grande ode ao eterno, ilustre, e very much britânico William Shakespeare.

Pois, visto que adaptando sua peça que inclusive dá nome ao novo longa-metragem, o roteiro vagamente intrometido de Whedon planta os acontecimentos da trama de alguns séculos atrás em tempos contemporâneos, embora mantenha com firmeza os diálogos rebuscados e cheios de floreios verbais do mestre Shakespeare, de forma que haja um pretensioso, mas precioso anacronismo em cena, que não demora a conquistar a plateia. Se uma peça de fato fosse, a vontade do público seria a de bater palmas e deixar as gargalhadas soarem livres pelo teatro até chegarem aos ouvidos dos talentosos atores.

Em parte, é sabido, a proposta surja zombeteira com o arcaísmo dos escritos originais do dramaturgo, se propondo justamente a escancará-lo, e com isso rendendo diversas e constantes passagens cômicas, em momento algum o cineasta apresenta descaso com o icônico autor. Percebe-se que apenas aquele que conhece bem e aprecia o material original seria capaz de subvertê-lo a ponto de fazer a comédia de Muito Barulho Por Nada-filme nascer da exposição descontextualizada do drama exagerado de Muito Barulho Por Nada-peça.

Muito além dos diálogos bem deslocados, no entanto, meus caros, está o poder estético do diretor frente a esse desafio pretensiosamente despretensioso. Um paradoxo, sim, pois é em cima de um paradoxo dramático que trabalha a grande reviravolta da narrativa. A narrativa, ela, tão impressionante, tem um começo estranho, sem dúvida, mas que logo no começo, verão, jamais soa como mero teatro filmado, erro comum a tantas tentativas de filmar teatro. Ali, em seus princípios, só pela estranheza, já capta nossa atenção. Em seguida, sem se demorar, nos toma pela mão e ganha nossa simpatia. Admirados pelos personagens e enganados pelo glamour exótico das falas, somos levados a crer na impossibilidade do esquema dos antagonistas chegar a algum lugar, no sentido, eu insisto, de duvidarmos que qualquer acontecimento leve a um alto nível de drama capaz de nos afetar emocionalmente. Ledo engano, ah, temerário engano, tão bem executado, é ele o responsável pelo desconforto a que somos submetidos a partir da metade da história, quando nossas expectativas são sendo passo a passo massacradas pelo real poder das palavras de Shakespeare. Quando, mesmo séculos longe de sua origem e milhas distante de sua ambientação ideal, as palavras de Shakespeare mostram a que vieram, e se arremessam em nossa direção como floretes que penetram os corações de jovens duques duelando pela honra de suas amadas.

Terrível dádiva, ó que terrível dádiva a do poeta que sabe o que fala, e terrível dádiva, também, em igual imensidão, a do cineasta que sabe o faz. E Whedon, garanto-lhes, sabe muito bem o que faz. Tem ele o controle absoluto da narrativa, invertendo o foco da mise-en-scène a seu bel prazer, para nosso desprazer, mas fazendo-o de modo tão sutil, que só percebemos a cruel jogada quando já é tarde demais, e sucumbidos à tragédia perecemos, felizmente voltando à felicidade quando somos reapresentados a ela, que, então descobrimos, jamais esteve por total perdida.

Nesse processo arriscado, têm uma presença ainda mais importante do que aparentam a princípio dois aspectos, meus senhores, que lhes revelarei nas próximas linhas. O primeiro a ser a trilha sonora, obra do próprio diretor, sempre se mostrando uma fonte de talentos multifacetada. Leve e raramente intrusiva, a melodia de Whedon, lúdica, é brilhante ao musicar os poemas de Shakespeare e gravá-los na belíssima voz de sua cunhada Maurissa Tancharoen, transformando-os em canções pop que caem como luvas nas várias mãos da inusitada ambientação do filme. E o segundo, mais delicado, é o tom misto nostálgico do filtro de cores da fotografia de autoria de Jay Hunter, que pega a escuridão das trevas, do tempo em que a peça nasceu, da tragédia, e a mescla com a luz das musas, do romance e do riso, e banha os personagens e a trama no mais bem-vindo e adequado preto-e-branco (que aqui merece o uso ultrapassado do hífen), cujas frestas são recheadas pela infinidade de tonalidades cinzentas que compõem os incontáveis mistérios existentes entre o Céu e a Terra, muitos deles por demais distantes de tudo que pode supor nossa vã filosofia.

Dessa forma, pode-se notar, o anacronismo dramático é complementado pelo anacronismo tecnológico, considerando o preto e branco, representante do passado, gerado a partir de uma câmera digital, uma da linha da inovadora RED, tão presente nas recentes quebras de paradigmas de produção do cinema mundial contemporâneo, fazendo-nos lembrar, de novo, o muito barulho por nada que é o drama do digital sobrepondo-se à película.

Assim, os paradoxos, ah sim, os paradoxos são vários, e se comportam em cooperação, em elegante mutualismo audiovisual comandado com tanto esmero pelo grande Joss Whedon, Príncipe dos Nerds, que faz uma das poucas obras que, remetendo ao significado de seu título em todas as facetas possíveis, podem e, da forma mais galanteadora, merecem ser chamadas de comédias dramáticas.

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Homem de Ferro 3

28/04/2013

Homem de Ferro 3 é melhor que o 2, inferior ao 1, contém boas cenas de ação, um senso de humor maravilhoso, e um sensacional tema musical original para o herói. Por que, então, vou dizer que pessoas irão se decepcionar?

Porque o arco narrativo do filme se estrutura todo em cima de um artifício que Alfred Hitchcock batizou de ‘MacGuffin’. Há uma revelação sobre a verdade por trás de determinado personagem que irá surpreender a (quase) todos, e irritar alguns outros.

Mas, quer saber? Foda-se.

Tem gente que reclamou de O Cavaleiro das Trevas Ressurge pelo fato de Bruce Wayne passar a maior parte do filme como ele mesmo e não como Batman. Em Homem de Ferro 3 – que tem muito do terceiro Batman nele, aliás –, Tony Stark fica quase o filme todo fora do traje de lata que o deixou famoso. Pessoas vão reclamar disso também? Vão. Tem alguma importância? Não. O filme funciona muito bem… Apesar disso? Ou justamente em função disso?

Voto pela segunda opção.

Homem de Ferro 3 tem seus problemas, claro, mas Tony Stark fora do traje não é um deles, e muito menos o é o MacGuffin referido antes.

A maior parte do imenso sucesso que o Homem de Ferro fez no cinema se deu graças à persona divertidíssima com a qual Robert Downey Jr. pincelou o personagem de Tony Stark, aquele egocêntrico e irresistível playboy gazilionário. Isso fica claro no final já no final do primeiro filme, quando Stark afirma na frente da coletiva de imprensa que ele é o Homem de Ferro. Essa autoafirmação está na natureza do personagem. E como o próprio Stark diz nesse terceiro filme, o traje é apenas uma carapaça.

Um filme APENAS sobre Tony Stark já faria uma boa bilheteria. O timing cômico de Downey Jr. daria conta do recado numa boa.

Quem reclamar da ausência do “Homem de Ferro” nesse Homem de Ferro 3 é porque queria ver filme do Michael Bay. Vai lá pros Transformers da vida ser feliz, amigo. E olha que apesar de Tony não vestir o traje com tanta frequência, esse talvez seja o longa da franquia com mais cenas ação.

Excelentes cenas de ação, aliás. É uma pena que eu tenha conferido o filme em 3D, que é convertido, vagabundo, raso, e só serve para escurecer a imagem e jogar para longe a nitidez das sequências mais agitadas – que numa sessão 2D tenho certeza que devem soar compreensíveis e mais empolgantes. Os costumeiros efeitos visuais (e sonoros) excelentes de filmes da Marvel fazem seu trabalho de forma admirável, principalmente na batalha final, que envolve várias tomadas de ação paralelas num mesmo ambiente – e para a fluência dessa ótima cena também contribui a competente montagem de Peter S. Elliot e Jeffrey Ford (este último já tendo montado Os Vingadores e Capitão América), que jamais deixa o espectador confuso, mesmo nos momentos mais movimentados e cheios de cortes.

Agora, voltando a falar da armadura de Stark (UI!), só pra esclarecer um ponto, sobre o estar-em e o estar-fora, como poderia dizer Heidegger, se este viesse a escrever uma crítica de cinema sobre Homem de Ferro 3. A única coisa relacionada à lataria de Stark que de fato incomoda um pouco (num nível pessoal) é a falta de foco do personagem. Desde que ele saiu daquela caverna afegã em 2008, o gênio não parou de fazer trocentos modelos diferentes da Mark I – julgando pelo fato de a Mark 42 ser o protótipo mais recente, dá pra deduzir que ele tenha construído, portanto, quarenta e duas armaduras(!). Ajuda a reforçar a personalidade ATUCANADA de Stark, e a ilustrar o efeito dos ataques de ansiedade que vem sofrendo desde os eventos retratados em Os Vingadores, mas não deixa de ser um pouco decepcionante não haver alguma armadura definitiva. Só que, como isso é um detalhe muito bem explorado (e até criticado) pelo roteiro, e como há uma justificativa dramática para tal, compreende-se o fato.

Justificativa também há para o Mandarim e para os motivos que o regem. Não dá pra comentar sem explicitar spoiler dos grande, ou no mínimo sugerir uma reviravolta que, ao se ter suspeita prévia dela, perde bastante de seu efeito quando a hora chega. Basta dizer que, ao julgar pela linha da narrativa, a decisão do diretor/roteirista Shane Black de abordar o personagem por aquele ângulo é totalmente compreensível, e faz toda a porra do sentido, além de criar um arco dramático bem redondinho.

O que não faz sentido é, com a iminência de um ataque terrorista de marca maior para cima da cabeça do presidente dos EUA, por que raios, sei lá, o Capitão América não fez nada pra ajudar? O Thor tá ocupado em, tipo, outra dimensão, o que justifica sua ausência, mas onde estão Seiya e os outros…? Ops, universo errado. Onde estão o Capitão e os outros Vingadores? Sim, é um filme do HOMEM DE FERRO, ele é para ser a estrela, mas não basta só citar os eventos dos outros filmes da franquia na expectativa de situar o espectador dentro dessa história “transnarratívica” que são os filmes da Marvel. Cadê a porra da S.H.I.E.L.D num momento em que o Mandarim tá literalmente tocando o terror pra cima de todo mundo? Precisava explicar porque o Tony tá sozinho nessa.

Outra coisa que não cola é o monólogo que abre e fecha o filme. Embora, me parece, a ideia de usar narração seja para dar um ar de clousura (neologismo que inventei agora e que serve como tradução literal da palavra inglesa “closure”, que significa “fechamento”) para as aventuras solo do personagem – afinal, o terceiro capítulo de uma trilogia sempre implica nisso –, o monólogo soa apenas manhoso, melodramático, esquemático e definitivamente não-Tony-Stark-style. Não precisa. Tipo, mesmo. O filme poderia começar com o flashback de 1999 numa boa, o que renderia maior energia e urgência à trama. E sim, existe uma justificativa narrativa para a narração (pelo menos isso!), que fica clara na cena pós-créditos, mas que, apesar de muito divertida, é uma cena que, de certa forma, diminui a força da história ao fazer o filme todo soar como um gigante e megalomaníaco flashback que se passa durante algum pedaço de Os Vingadores 2.

Findando a discussão, concluo que Homem de Ferro 3 tem muito mais acertos que erros. E vale dizer que o compositor Brian Tyler faz aqui o melhor trabalho de sua carreira (que não era muito expressiva, mas ok), e finalmente carimba musicalmente a persona do Homem de Ferro no espectro cinematográfico da sétima arte (ó que fala bunita!) com um imponente tema musical que é construído aos poucos e que se solidifica de forma linda na empolgante balada que toca durante os belos créditos finais, que servem como uma pequena e bela retrospectiva dos outros filmes do personagem.

Obs: estou pensando em escrever um texto para discutir o Mandarim e a polêmica que o circunda.

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Eu não quero voltar sozinho

13/04/2013

O belíssimo curta-metragem que foi censurado no Acre:

Por iniciar os créditos com o som da máquina de escrever em braile, que em seguida aparece sendo utilizada pelo protagonista, o filme já nos coloca sob o ponto de vista deste. A cena de abertura dentro da sala de aula serve para apresentar o espectador ao personagens principais da trama e ao contexto em que estão inseridos. É sintomático que a professora ali seja retratada como alguém que não possui a atitude moral necessária a sua posição. Quando alguém toca uma bola de papel no aluno novo enquanto ele se apresenta para a turma, a professora começa a repreender o ato, mas logo desiste assim que o sinal do colégio soa. Uma cena tristemente verossímil, que reforça o drama da história que irá se desenrolar. A amizade entre Leonardo, Gabriel e Giovana é desenvolvida de forma rápida e eficiente, graças à boa montagem, que intercala cenas variadas de convívio entre os três, e principalmente ao maravilhoso elenco, que cativa o espectador sem a menor dificuldade. Nisso entra também o mérito do diretor (e roteirista) Daniel Ribeiro, que conduz os jovens (e promissores) atores muito bem, trazendo descontração à encenação. A performance de Ghilherme Lobo, como Leonardo, então, é a cereja do bolo. Se ele não é cego, compôs um cego perfeitamente; e se é cego, soube usar sua expressão facial de modo admirável, abrindo um leve e lúdico sorriso em momentos chave da narrativa. É graças a ele que o filme funciona. E funciona muito bem! Com um drama humano, recorrente e relevante, “Eu não quero voltar sozinho” representa o que há de melhor na cinematografia de curtas no Brasil, construindo uma narrativa coerente, fluida e bela, e esculpindo felicidade no estado de espírito de quem assiste a obra.

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De Deborah Kerr à Kate Winslet, por que as mulheres continuam sendo inferiorizadas no cinema?

11/03/2013

Nessa madrugada eu vi Tarde Demais Para Esquecer. Um romance incrivelmente divertido e protagonizado por Cary Grant e Deborah Kerr, os dois esbanjando uma química de dar gosto e inveja.

Os dois se apaixonam mesmo já estando comprometidos, mas prometem se reencontrarem em seis meses. Só que (SPOILER a partir daqui), quando chega o momento, ELA sofre um acidente grave, e não consegue ir ao encontro DELE, que fica a espera da moça.

Tudo bem que no final eles ficam juntos e felizes, mas o que me chamou atenção foi o fato de que é a mulher que se ferra no processo. Por mais que o roteiro construa uma personagem forte, que encontra eco na performance consistente de Deborah Kerr, a narrativa não consegue fugir à decisão de fazer a mulher sofrer por desistir do casamento pré-agendado em favor de outro amor, genuíno.

E esse filme é de 1957. Ok, são umas seis décadas atrás. O machismo era muito mais comum na época. É compreensível que uma obra de arte dos anos 50 esteja impregnada por uma dose de machismo, ainda inconsciente.

Mas então eu lembro do recente Foi Apenas Um Sonho, de 2009, (SPOILER) em que tanto marido quanto esposa traem um ao outro, mas é a mulher, interpretada por Kate Winslet, que sofre um aborto espontâneo e acaba morrendo no final. UPDATE: o aborto é intencional e não espontâneo, mas ela sofre igual; mantenho meu argumento.

Aí eu me pergunto: até quando as mulheres (mesmo as ficcionais) vão ter que sofrer ou morrer por questões banais para que todos os homens percebam que elas não devem nada a nós e que não devem ser tratadas como inferiores?

O que me assusta e me deixa triste é que eu não sei a resposta. Mas acho que infelizmente ainda vai demorar.

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Vencedores do Oscar 2013

25/02/2013

YES! Argo venceu e esse foi o ano em que mais acertei vencedores desde que comecei a brincar de adivinho do Oscar. Foram 18 acertos entre 24 categorias, algumas cheias de incertezas.

MELHOR FILME

Argo (Ben Affleck, George Clooney, Grant Heslov)

Previsto corretamente. Haters gonna hate. Grant Heslov parece que não dorme há séculos, considerando suas olheiras. Muito legal ele ter citado Affleck como diretor do filme várias vezes. E Affleck estava visivelmente emocionado e sem saber o que falar ao agradecer o prêmio. George Clooney, simpático e sábio, dispensou o microfone, sabendo que a noite era de Affleck e não dele.

MELHOR DIREÇÃO

Ang Lee, por As Aventuras de Pi

Errei. Não deveria ser tão surpreendente. Imaginei que se Spielberg não levasse, Haneke ficaria com a graça, mas parece que a teoria de que ambos dividiriam votos abrindo caminho para Ang Lee de fato procedeu.

MELHOR ATOR

Daniel Day-Lewis, por Lincoln

Acertei. Ver Day-Lewis recebendo sua terceira estatueta pelas mãos de ninguém menos que Meryl Streep foi certamente o maior momento da noite.

MELHOR ATRIZ

Jennifer Lawrence, por O Lado Bom da Vida

Errei. Era a favorita e de fato entrega uma performance forte e imponente em O Lado Bom da Vida, mas eu preferia mil vezes o trabalho da veterana Emmanuelle Riva no devastador Amor. E como comentado no post anterior, me parecia que ela venceria. Lawrence tropeçando no próprio vestido ao subir as escadas do palco para receber o prêmio foi algo bastante desconcertante. Coitadinha. Ela realmente não esperava vencer.

MELHOR ATOR COADJUVANTE

Christoph Waltz, por Django Livre

Acertei. Primeiro prêmio da noite. Começar acertando logo uma categoria tão imprevisível quanto essa me deixou bem empolgado, e a maioria das vitórias seguintes justificou minha empolgação. Resta saber se Waltz estava realmente super emocionado ou simplesmente tentando ser engraçado sem ter sido bem sucedido.

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE

Anne Hathaway, por Os Miseráveis

Acertei. Anne Hathaway conseguiu fazer o pior discurso da noite, num momento mais vergonha alheia que o subsequente tropeço de Jennifer Lawrence. Aquele “It came true” foi cafonésimo. É incrível como a atriz que imitou Hathaway nesse vídeo paródia conseguiu captar a exata essência do que a dita cuja acabou de fato fazendo no seu discurso.

MELHOR ROTEIRO ADAPTADO

Chris Terrio, por Argo

Acertei. Quando anunciaram o vencedor, a subsequente vitória de Argo como melhor filme ficou ainda mais evidente.

MELHOR ROTEIRO ORIGINAL

Quentin Tarantino, por Django Livre

Errei. Não deveria, mas fiquei surpreso. Eu realmente tinha um feeling muito forte por Michael Haneke aqui. Tarantino ganhando foi legal, o discurso dele foi bacana.

MELHOR MONTAGEM

William Goldenberg…

Quem apresentou essa categoria demorou consideráveis segundos para citar o nome de Goldenberg e depois o filme pelo qual concorria. Fiquei tenso até escutar “Por Argo!” Acertei.

MELHOR FOTOGRAFIA

Claudio Miranda, por As Aventuras de Pi

Acertei. Até um dia antes de lançar minhas apostas, senti uma tendência de vitória para Roger Deakins, mas voltei atrás e voltei minha atenção para As Aventuras de Pi, que de fato tem uma fotografia linda – e muitas vezes esse adjetivo pesa mais na cabeça dos votantes. E Claudio Miranda é uma figura.

MELHOR DIREÇÃO DE ARTE

Rick Carter, por Lincoln

Errei. Maior surpresa da noite. Ainda mais surpreendente do que aquilo que aconteceu na categoria de edição de som (e que explicarei quando chegarmos lá). Elogiei a direção de arte de Lincoln na minha crítica sobre o filme, mas justamente por ela ser discreta e não chamar atenção para si. É estranho que tenha ganhado, ainda mais concorrendo com filmes mais visualmente atraentes como Anna Karenina e O Hobbit.

MELHOR FIGURINO

Jacqueline Durran, por Anna Karenina

Acertei. Segue a lei universal de filmes de época ganhando aqui.

MELHOR MAQUIAGEM

Julie Dartnell e Lisa Westcott, por Os Miseráveis

Acertei. Fiquei feliz por amarelar na aposta em O Hobbit e trocar meu voto.

MELHOR TRILHA SONORA

Mychael Danna, por As Aventuras de Pi

Acertei. Vitória merecida para um dos melhores compositores menos conhecidos (até agora). Chamaram o elenco principal de Chicago para apresentar a categoria. Quando Richard Gere abriu o envelope e mostrou o conteúdo para Renée Zellweger, foi patético vê-la não conseguir ler o vencedor, de tanto botox que meteu na cara. Percebendo a gafe, Queen Latifa espiou o que estava escrito e deu aquele berro anunciando “Life of Pi, Mychael Danna!”

MELHOR CANÇÃO

“Skyfall”, de Adele e Pau Epworth para 007: Operação Skyfall

Acertei. Já estava na hora de um filme do 007 ganhar nessa categoria. Todo o brilho (e baita voz) de Adele ajudou isso a acontecer. A canção ser excelente também. E Adele fez o melhor discurso da noite.

MELHOR EDIÇÃO DE SOM

Empate!

Quando Mark Wahlberg, acompanhado do urso TED, anunciou que havia acontecido um empate, todo o planeta jurou que era uma piada. Wahlberg contribuiu para isso ao não sair do personagem quando leu “It’s a tie”. Um dos melhores momentos da noite.

Venceram Paul N. J. Ottosson por A Hora Mais Escura, e a dupla Karen M. Baker e Per Hallberg responsável por 007: Operação Skyfall. Acertei por ter apostado em Skyfall, e fiquei ainda mais feliz por A Hora Mais Escura ter vencido também. Obs: Per Hallberg parece o Rick Wakeman.

MELHOR MIXAGEM

Andy Nelson, Mark Paterson e Simon Hayes por Os Miseráveis

Acertei. Nenhuma surpresa aqui. A mixagem de Os Miseráveis é realmente sensacional.

MELHOR EFEITOS VISUAIS

Bill Westenhofer, Donald Elliott, Erik De Boer e Guillaume Rocheron por As Aventuras de Pi

Acertei. Não sei qual deles foi, mas o cara monopolizou o microfone, não deixou nenhum colega falar, e a orquestra teve que abafar seu interminável discurso com acordes da trilha de Tubarão. A câmera depois focou o rosto de Nicole Kidman, que se mostrou #xatiada com a atitude do sujeito. UPDATE: Revi totalmente minha opinião sobre o discurso depois de ler esse texto aqui.

MELHOR ANIMAÇÃO

Valente, de Mark Andrews e Brenda Chapman

Errei. Às vezes a Pixar ganha porque é a Pixar. Tanto Frankenweenie, quanto ParaNorman e principalmente Detona Ralph eram superiores a Valente.

MELHOR FILME EM LÍNGUA NÃO-INGLESA

Amor

Acertei. Ver Michael Haneke vencendo e agradecendo com aquele carregado sotaque alemão foi uma das coisas mais lindas da noite. Não sei como um velhinho tão fofo pode fazer filmes tão destruidores.

MELHOR DOCUMENTÁRIO

Searching For Sugar Man

Acertei.

MELHOR CURTAMETRAGEM

Curfew

Acertei.

MELHOR CURTA DE ANIMAÇÃO

Paperman

Troquei minha aposta no último minuto por Head Over Heels e me arrependo. Errei.

MELHOR CURTA DOCUMENTÁRIO

Inocente

Todo mundo dizia Open Heart, mas Inocente levou. Errei.

Relação dos vencedores:

4 – As Aventuras de Pi (direção, fotografia, trilha sonora, efeitos visuais)

3 – Argo (filme, roteiro adaptado, montagem) | Os Miseráveis (atriz coadjuvante, maquiagem, mixagem de som)

2 – 007: Operação Skyfall (canção, edição de som) | Django Livre (ator coadjuvante, roteiro original) | Lincoln (ator, direção de arte)

1 – Amor (filme estrangeiro) | Anna Karenina (figurino) | Curfew (curta) | A Hora Mais Escura (edição de som) | Inocente (curta documentário) | O Lado Bom da Vida (atriz) | Paperman (curta de animação) | Searching For Sugar Man (documentário) | Valente (animação)

Como eu havia previsto, o maior vencedor da noite ficou com não mais do que quatro vitórias, e o melhor filme ficou com três. É, em 2013 eu fui um bom oscarologista. Que venha 2014!