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The Hurt Locker

07/02/2010

Ok, era impossível para eu ir ver esse filme sem ter alguns quilos de expectativa nas costas.


Decepcionante não é bem a palavra que eu usaria, pois o filme é bom, mas Guerra ao Terror (The Hurt Locker, 2008) está longe de ser tudo aquilo que o mundo todo está falando. Como eu li em um comentário no IMDb: esqueçam a hipérbole dos críticos. Guerra ao Terror é bom, sim, mas por culpa daqueles mesmos que falaram tão bem do filme, ele não parece tão bom assim.

É mais ou menos o que aconteceu com Tropa de Elite (2008) aqui. Vazou a cópia pirata, e certamente o primeiro que viu o filme deve ter visto um dos filmes mais chocantes e impressionantes da sua vida. Então esse cara conta para outra pessoa que o filme é ‘genial’. Essa pessoa, depois de escutar que o filme é ‘genial’, vai ver o filme pensando que vai ser um filme ‘genial’, pois ela ficou com expectativa E sempre que temos expectativa, de uma forma ou de outra, nos frustramos. O único filme que não me frustrou até agora foi Batman: O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight, 2008), que no dia da estréia eu estava tremendo e batendo os pés no chão esperando a aula acabar para ir direto ao cinema. Eu estava com muita expectativa, e o Christopher Nolan conseguiu me surpreender mesmo assim. Coisas desse tipo são raras.

Não duvido que se eu fosse um dos seletos críticos presentes no Festival de Toronto, quando Guerra ao Terror foi primeiro apresentado, eu ficasse totalmente abobado com a produção. Acontece que eu não estava lá em Toronto. Eu vi o filme em Porto Alegre, na estréia, mas depois de uma besteira homérica por parte da distribuidora. O filme foi lançado em DVD aqui, em abril, sem o menor alarde. Então, agora com 9 indicações ao Oscar na bagagem, decidiram lançar Guerra ao Terror nos cinemas.

Kathryn Bigelow é uma prova viva de que a evolução humana é real, e não mais uma teoria. Certamente seu ex-marido James Cameron deve ter ajudado nessa metamorfose, pois ela foi casada com ele justamente no período posterior (1989-1991) ao lançamento daquele filme que eu falei tão mal do final do ano passado: Jogo Perverso, de 1989. Guerra ao Terror é trocentas mil vezes melhor que Jogo Perverso! Vinte anos depois, Bigelow mostra que é uma diretora muito competente. (afinal, foi Cameron quem convenceu ela a dirigir este filme).

Começando com uma cena por demais tensa, Bigelow nos prende a atenção enquanto o trio de soldados se organiza para desativar uma bomba. Esse é o trabalho dos protagonistas de Guerra ao Terror: desativar bombas. É isso que eles fazem o filme todo. Ao contrário do que o título besta brasileiro sugere ‘Guerra ao Terror’ não fala sobre uma guerra ao terror, e sim sobre os Hurt Locker, que são os caras que desativam as bombas, e The Hurt Locker (filme) trata sobre isso, e sobre isso apenas.

Aliás, o título ‘Guerra ao Terror’ é tão idiota, que vai contra o próprio discurso do filme. O roteiro de Mark Boal e a direção de Kathryn Bigelow nos mostram como o exército americano trabalha no Iraque. Qualquer pessoa que aparece é um potencial terrorista. O taxista é ‘do mal’ por que ele cruzou uma rua em que os americanos estavam passando’. Um arbusto roçando na parede é uma ameaça, uma libélula pode ser um bombardeiro. Essa paranóia do exército é muito bem retratada pelo filme. Notem como o soldado interpretado por Anthony Mackie está sempre gritando com qualquer um, e como ele fica nervoso quando seu novo sargento foge do protocolo. Chega a dar raiva do sujeito (eu fiquei, pelo menos). Outro personagem do trio principal mostra outra faceta dos soldados: a vontade de voltar para casa. O soldado Owen (Brian Geraghty) é claramente o mais jovem deles, e o que se mostra menos confortável com o que eles fazem lá. E ele é usado brilhantemente em uma cena genial na qual aparece jogando vídeo-game. Por quê? Por que é exatamente isso que eles fazem nas ruas do Iraque. É como se eles estivem jogando CS em uma versão live-action, com risco de morte. A diferença é que eles pensam que escolheram ser o grupo Contra-Terrorismo, quando na verdade são evidentemente os verdadeiros terroristas da História (com maiúscula, sim).

Outro exemplo do que há de melhor em The Hurt Locker é a já citada primeira cena. Os soldados estão usando um robozinho com câmera para chegar perto da bomba e ver o que fazer depois. Um robô! Perfeito. Pois os próprios soldados são pequenos robozinhos nas mãos dos políticos que mandam nos EUA.

Todas as cenas de The Hurt Locker são admiravelmente bem construídas. Parece que estamos vendo um reality show da guerra no Iraque, tamanha é a verossimilhança do que aparece em tela. A montagem de Bob Murawski e Chris Innis faz ótimo trabalho alternando cenas de ação convencionais, e outras em tom documental, faceta que compartilham com a excelente fotografia de Barry Ackroyd. O design de som (Paul N. J. Ottosson) do filme todo também é fantástico. Na realidade toda a parte técnica de The Hurt Locker é profissional até o fim.

E não há como não citar a performance de Jeremy Renner no papel daquele que se mostra o protagonista central da história. Ele dá ao oficial William James uma aura de realidade incrível. É um personagem crível. Que pode soar tanto como o herói de ação, como o pistoleiro solitário, como o soldado rebelde, como o oficial preocupado com seus subordinados, todos esses tipos diferentes cabem dentro do William James de Jeremy Renner, e o resultado não é caricato, é sim tridimensional, o que comprova o talento de Renner e justifica sua indicação ao Oscar.

No entanto, se o filme tem tudo isso de bom, falta emoção ao que estamos vendo. A primeira cena é tensa, sim, mas o resto do filme por vezes não é. De tão documental que The Hurt Locker ficou, pelo menos para mim faltou um pouco de emoção. Uma pena. Nota: 4/5.

(filme visto em 05/02/2010)